Censo Demográfico apurou dados étnico Quilombola pela primeira vez e no Amapá há 12.524 quilombolas, cerca de 1,7% da população total do Estado. Joelma Menezes e família no Quilombo do Rosa.
Arquivo pessoal/ Joelma Menezes
Pela primeira vez o Censo Demográfico apurou números em relação à população étnico Quilombola. O estudo marca uma conquista para essa parcela da população, já que através dos números do censo são desenvolvidas políticas públicas.
O Amapá tem 12.524 quilombolas, cerca de 1,7% da população total do estado, apontou o Censo. Segundo os dados, 4.701 (37,54%) pessoas quilombolas moram em territórios quilombolas e 7.823 (62,46%) fora desses territórios.
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Joelma Menezes, se identifica como mulher preta, e é pertencente ao quilombo do Rosa, área rural de Macapá. Ao falar de sua origem, o sentimento é de orgulho.
“Minhas lembranças do quilombo são tesouros que guardo com carinho até hoje, pois remetem há momentos inesquecíveis e significativos. Recordo-me das manhãs em que acordávamos com a empolgação para ir à roça plantar mandioca, éramos conectados com a terra e a natureza ao nosso redor. A cada semente lançada ao solo era a mais pura e inocente visão de criança”, relembrou
O sentimento da quilombola é de afetividade.
Arquivo Pessoal/Joelma Menezes
Joelma nutre o sentimento de gratidão e quer que ele seja repassado para as próximas gerações. “Honro essas memórias e alimento o desejo de compartilhar com as futuras gerações a riqueza desse legado, para que eles também possam sentir o poder transformador das raízes que nos sustentam”, destacou.
Marabaxeiras do Quilombo do Rosa.
Arquivo pessoal/Joelma Menezes
Os Quilombolas, na época da escravidão, eram comunidades formadas por escravos fugitivos que em sua maioria iam para lugares afastados dos grandes centros urbanos. Esses espaços caracterizam-se por serem próximos a áreas de mata.
Quilombo do Rosa, área rural de Macapá.
Arquivo pessoal/Joelma Menezes
Nessas comunidades é comum povos tradicionais antigos serem encontrados. “O mais importante era o privilégio de ouvir as histórias de minha avó Nazaré e meu tio João. As narrativas repletas de sabedoria, experiências e tradições nos inspiravam a sermos melhores seres humanos e a valorizarmos nossa herança cultural” descreveu Joelma.
Apesar do sentimento de afeição ao seu lugar de origem, Joelma teve que se deslocar para os centros urbanos para ter acesso à educação e qualidade de vida.
“Precisei vir para a cidade estudar e trabalhar. Infelizmente, no quilombo não há escola disponível, o que me obrigou a buscar oportunidades fora da comunidade. Essa decisão não foi fácil, já que valorizo profundamente minhas raízes, mas compreendi a importância de adquirir conhecimento e experiência para contribuir de forma mais significativa com o desenvolvimento do quilombo” afirmou.
Joelma Menezes, presidente da associação de moradores.
Arquivo pessoal/Joelma Menezes
Maria Carolina Monteiro, é advogada e atuante no movimento negro no Amapá, ela destaca o papel dos quilombos para a conservação da memória dos povos tradicionais.
“É fundamental que esses lugares sejam preservados, seja nas cidades ou zonas rurais, para que a gente mantenha nossa história viva. Esses espaços são belíssimos e riquíssimos em cultura, muitos são áreas de preservação ambiental, como o Quilombo do Curiaú”, afirmou a ativista social.
Quem vive ou já viveu em comunidades tradicionais fala com propriedade sobre as dificuldades enfrentadas. Segundo Joelma, os investimentos incluem infraestrutura, acesso a serviços de qualidade, programas educacionais e de capacitação profissional, além de iniciativas que promovam a preservação da cultura e das tradições quilombolas.
“Uma das questões mais desafiadoras enfrentadas por aqueles que ainda residem nos quilombos é a ausência de políticas públicas efetivas. Essas comunidades frequentemente se veem esquecidas. A carência de investimentos compromete o desenvolvimento e o bem-estar dessas comunidades”, afirma Joelma.
População Quilombola do Amapá
Final de tarde do pescador na comunidade de remanescentes quilombolas Curiaú
Pedro Pereira/Tô na Rede
A população quilombola do Amapá é de 12.524 pessoas, segundo o Censo Demográfico 2022, divulgado na última quinta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A população representa 1,71% de pessoas residentes no estado, que é de 733.508 habitantes.
O Amapá tem a terceira maior proporção de pessoas quilombolas na população residente por unidade da federação, com 1,71%. O estado fica atrás do Maranhão, que tem 3,97%, e da Bahia, com 2,81%.
Os dados mostraram que entre quilombolas e não quilombolas, as áreas delimitadas possuem 6.788 habitantes.
O Amapá apresentou a segunda maior média de moradores em domicílios particulares permanentes ocupados com pelo menos um morador quilombola, com 3,89%. O estado ficou apenas atrás do Amazonas, que possui 4,71% neste quesito.
Veja a população quilombola por município no AP:
Calçoene – 58
Ferreira Gomes – 82
Itaubal – 102
Laranjal do Jari – 345
Macapá – 8935
Mazagão – 1483
Oiapoque -146
Porto Grande – 139
Santana – 999
Tartarugalzinho – 46
Vitória do Jari – 189
Veja os principais destaques do Censo de 2022 sobre o assunto:
O Brasil tem 1,3 milhão de pessoas que se identificam como quilombolas. Isso corresponde a 0,65% da população total do país.
São quase 474 mil domicílios com pelo menos um morador quilombola – e com a média de moradores mais elevada (3,17) do que a média nacional (2,79).
O Nordeste concentra quase 70% dos quilombolas, com grande destaque para os estados da Bahia e do Maranhão. Juntos, eles têm 50% dos quilombolas do país.
Mesmo com essa concentração, há quilombolas em todas as regiões do país e em quase todos os estados — com exceção de Roraima e Acre.
Quase ⅓ dos quilombolas do Brasil estão na Amazônia Legal.
Das 5.568 cidades do país, 1.696 têm moradores quilombolas (30,5%).
87,41% dessa população vive fora de territórios oficialmente delimitados para quilombolas.
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