‘Realidade muito difícil’, diz pescador sobre contaminação de peixes do Araguari no AP

Pescadores gravaram momento em que é possível ver um peixe da espécie trairão cheio de vermes. Situação ocorre nos municípios de Porto Grande e Ferreira Gomes. Peixes contaminados por vermes no AP
Villyan Correia/divulgação
Pescadores dos municípios de Porto Grande e Ferreira Gomes estão denunciando que os peixes estão impróprios para o consumo, pois apresentam número expressivo de vermes.
Em vídeo registrado pelos pescadores, é possível observar que ao cortar o pescado, aparecem vermes entre as espinhas.
Veja vídeo abaixo:
Pescadores de Porto Grande e Ferreira Gomes denunciam contaminação de peixes após seca
Os pescadores da região lamentam a situação e relatam que os peixes da região estão contaminados. O g1 conversou com o Villyan Correia da Silva, pescador da colônia Z16, do município de Porto Grande sobre o assunto, ele afirma que a maioria dos trabalhadores já está no limite, sem saber o que fazer para se manter.
“A gente tá passando por uma realidade muito difícil. O peixe se encontra nesse estado com muitos vermes, estamos enfrentando dificuldade pra vender esse produto. Aqueles que tem coragem de comer, é o jeito comer, porque todas as espécies de peixes estão assim, não só o trairão”, lamenta o pescador.
O g1 consultou especialistas sobre o assunto, para saber se a contaminação pode estar associada ao período de estiagem que atinge vários municípios do Estado.
Conforme a pesquisadora de peixes do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa) Dra. Cecile de Sousa Gama, a estiagem prolongada acaba diminuindo a margem de água dos peixes e por consequência, a luz do sol acaba chegando mais próxima do leito dos rios, aumentando a temperatura do ambiente, mudando a forma de sobrevivência deles.
“Os peixes, não tem capacidade de regular a temperatura corporal, então ele vai ficar debilitado por conta dessa condição. A vida dos vermes tem um ciclo que também é influenciado pelas questões ambientais, eles estão no ambiente, mas em equilíbrio. A partir do momento, que há alteração no ambiente, esse número também muda e se o peixe estiver debilitado, ele acaba sendo alvo de grandes infestações”, explica a pesquisadora.
No Rio Araguari já existe outro fator bastante estudado, que é a contaminação por mercúrio.
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Sobre o tipo de vermes presentes nos peixes da região, conversamos com o biólogo e pesquisador do Iepa, Antonio Carlos Freitas Souza, ele explica que os parasitas presentes estão em grande número por conta da diminuição no volume de água no local, consequência da estiagem severa que a região enfrenta e que vem causando a seca dos rios.
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“Nos vídeos, é possível observar um parasitismo por nematódeos, que são seres cilíndricos e os peixes são os hospedeiros intermediários. E essa questão do parasitismo está normalmente relacionada com a má qualidade da água, com a ação antropogênica que tem sido feita nessa região de Porto Grande e Ferreira Gomes e em especial nesse momento em que a gente se encontra, de estiagem. Esse volume hídrico, está baixando muito e isso está ocasionando o confinamento dessas espécies e isso leva ao estresse desse pescado, facilitando esse processo de parasitismo, explica.
O consumo desse pescado contaminado por parasitas, pode ocasionar em sintomas como dores abdominais fortes, vômito, náuseas e mal-estar, em geral. Mas, é necessário identificar o tipo de verme presente neste caso em específico para fazer o tratamento adequado, em caso de ingestão do peixe.
“Apenas por imagem, a gente não consegue identificar a espécie do parasito, havendo a necessidade de uma intervenção e realização de uma coleta e identificação laboratorial dessa espécie. O consumo desses parasitos, em especial dos que tem potencial zoonótico, levam geralmente a potenciais infecciosos”, finaliza o pesquisador.
Uma comissão de representantes dos municípios de Porto Grande e Ferreira Gomes protocolou um documento de pedido de ajuda junto ao governo do Estado, por conta da situação da seca nos rios.
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