‘Gritava que não queria morrer’: testemunha afirma que ouviu últimas palavras da cabo Emily, assassinada por ex-PM no AP


Testemunha disse que entrou no quarto em que Emily Karine de Miranda Monteiro estava e a viu baleada antes de morrer coberta com uma manta da cintura para baixo. Depoimento foi dado durante júri popular de Kássio de Mangas, ex-soldado da PM acusado de matar a ex-companheira em 12 de agosto de 2018. Emily Karine de Miranda Monteiro foi morta no dia 12 de agosto de 2018 por ex-companheiro, Kassio de Mangas
Núbia Pacheco/g1
Nos últimos segundos de vida, Emily Karine de Miranda Monteiro, de 29 anos, teria gritado que não queria morrer. Foi o que afirmou uma testemunha durante o julgamento de Kassio de Mangas, ex-soldado da PM acusado de matar a ex-companheira em 12 de agosto de 2018.
“Ela gritou, ela deu um grito bem alto: ‘eu não quero morrer’. Mas não comigo, ela falou só ela no quarto, quando eu ia entrando”, contou a testemunha.
Emily Karine de Miranda Monteiro foi morta no dia 12 de agosto de 2018. Julgamento acontece nesta segunda-feira (22). Ex-namorado kassio de Mangas confessou autoria do assassinato.
O júri iniciou por volta das 9h10 desta segunda-feira (22), após quase 5 anos de espera pelo julgamento.
A segunda testemunha começou a ser ouvida por volta de 10h40. Ela afirmou que viu a vítima no quarto deitada na cama de peito pra cima, coberta com uma manta da cintura para baixo. Ela relatou que teria visto tiros no peito e na perna da vítima.
Júri formado por 7 homens
O julgamento do ex-PM kássio de Mangas dos Santos teve um conselho de sentença formado totalmente por jurados homens.
Na Justiça brasileira, as pessoas acusadas de crimes dolosos contra a vida, naqueles casos onde houve a intenção de matar a vítima, são julgadas por 7 jurados da sociedade civil e não por um juiz.
Em Macapá, mensalmente são escolhidos 25 jurados para servirem no Conselho de Sentença, como é chamado o grupo de jurados. Elas são convocadas sempre que há um júri e, no início do julgamento, há um sorteio para definir os 7 que vão julgar o caso.
O Tribunal de Justiça do Amapá (Tjap) informou que cada parte (defesa do réu e acusação) tem o direito de dispensar até 3 jurados sorteados sem necessidade de justificativas. No caso do julgamento do ex-PM, dos 7 jurados sorteados, 3 eram mulheres e toda elas foram dispensadas pela defesa do réu.
“A banca de defesa dispensou todas as mulheres (três das sete) sorteadas para compor o Conselho de Sentença, enquanto que a acusação também fez uso de tal direito. Logo no início da audiência, foram sorteados os sete jurados do caso entre as 25 pessoas selecionadas pela Justiça Estadual”, informou o Tjap.
Crime
Soldado da PM foi filmado saindo da casa da cabo Emily com arma na mão, após o crime
Reprodução
De acordo com a apuração da Polícia Civil, a cabo da PM foi morta por volta das 17h do dia 12 de agosto de 2018, no quarto da casa localizada no bairro Pacoval, na Zona Norte de Macapá.
A investigação entendeu que o crime contra Emily foi motivado pelo fato de o soldado não aceitar o término do relacionamento que tinham há quase 2 anos.
O casal teria tido uma briga antes, o soldado retornou à casa e, então, disparou quatro vezes na ex-namorada, na cabeça, no peito, no abdome e na coxa dela. Ela estava deitada na cama, quando foi ferida pelos tiros da arma usada no crime, uma pistola .40. Câmeras de segurança mostram ele com uma arma na casa.
Emily chegou a ser socorrida e levada para o Hospital de Emergência (HE) da capital, mas não resistiu. A polícia apurou que, depois de atirar nela, o soldado saiu calmamente do local do crime.
Carro levado por ex-namorado de PM após assassinato foi abandonado em rodoviária de Macapá
John Pacheco/Arquivo g1
Mangas fugiu no carro de Emily e deixou o veículo no dia seguinte no terminal rodoviário de Macapá, onde recebeu carona do irmão, que disse não saber do crime. No dia 14 de agosto de 2018, dois dias após o assassinato, ele se entregou na Delegacia de Crimes Contra a Mulher (DCCM), onde prestou depoimento acompanhado de um advogado.
Como a Justiça já havia expedido mandado de prisão preventiva contra ele, Mangas foi encaminhado ao Centro de Custódia do Zerão, na Zona Sul, onde segue preso.
A investigação detalhou que “os quatro disparos foram efetuados lentamente, quase que como forma de tortura”, impossibilitando qualquer defesa de Emily; e que Mangas se aproveitou da relação afetiva que tinha com a vítima para cometer o crime.
Julgamento
Soldado da PM Kassio de Mangas dos Santos (no Centro) foi preso dois dias depois do crime, após prestar depoimento na DCCM de Macapá
Carlos Alberto Jr/G1
O PM foi pronunciado pela Justiça em 2019, determinando que Mangas seja submetido a júri popular pelo crime.
Ao ser pronunciado, Mangas teve a prisão preventiva mantida pelo juiz Luiz Nazareno Hausseler, justificando que ele é uma “pessoa violenta, capaz de praticar fatos semelhantes”, além de “atemorizar as testemunhas”.
Kassio de Mangas foi descrito como uma pessoa violenta
Rede Amazônica/Reprodução
O inquérito foi concluído e o réu foi denunciado em menos de um mês após o crime. O documento acusatório foi assinado pelos promotores de Justiça Iaci Pelaes dos Reis e Eli Pinheiro de Oliveira. A audiência de instrução foi realizada em outubro de 2018, quando testemunhas e Mangas foram ouvidos pelo judiciário pela primeira vez.
Polícia Civil concluiu inquérito e MP ofertou denúncia sobre o caso em menos de 30 dias após o crime
Carlos Alberto Jr/Arquivo g1
Ao denunciar o PM, o Ministério Público (MP) do Amapá elencou 10 testemunhas de acusação. Para o órgão ministerial Emily foi morta “por ser mulher, que, segundo a mentalidade machista dele, não poderia exercer sua liberdade e fazer escolhas, inclusive, a de romper o relacionamento”.
Ainda segundo o MP, ao depôr à polícia, Mangas declarou que “estava fora de si e atordoado” no momento em que matou Emily, mas que “as provas coligidas pelas Delegadas de Polícia contradizem essa versão, evidenciando que ele praticou o assassinato de forma consciente, em atitude covarde, fria e sem demonstrar qualquer gesto de arrependimento”.
Podendo ser condenado a 30 anos de prisão, Mangas foi denunciado por homicídio quadruplamente qualificado:
motivo torpe;
uso de meio cruel;
impossibilidade de defesa da vítima;
feminicídio;
e ainda por fraude processual, em concurso material. O inquérito aponta que o quarto onde houve o assassinato foi limpo com ajuda de um edredom e que os quatro projéteis usados nos disparos foram removidos do local.
Violento
Kassio de Mangas dos Santos segue preso preventivamente por determinação da Justiça. Ele é macapaense, tem 30 anos, é e ex-soldado da PM. O MP, responsável pela acusação, também o descreve como uma pessoa violenta.
Ao denunciar o PM, os promotores ressaltaram que Mangas já tinha duas ocorrências policiais registradas contra ele na Delegacia da Mulher por ter praticado agressões contra outras ex-namoradas.
PM Kassio de Mangas foi preso pelo assassinato da ex-namorada, a cabo Emily Monteiro
Reprodução
Na cadeia, ele se envolveu em uma confusão com uma agente prisional. Ele foi preso após discutir com ela pelo uso de um celular. Mangas teria praticado desacato e feito ameaças à agente. Leia mais.
A Justiça concedeu liberdade provisória pelos crimes de desacato a servidor público e ameaça, mas ele continuou preso porque responde ao crime de homicídio qualificado. A Justiça aguarda oferta da denúncia quanto aos crimes que ele teria praticado contra a agente.
Kassio Mangas foi exonerado do cargo que tinha no governo estadual. Ele atuava no Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
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