Maria Alves, é uma das 104 pacientes afetadas por complicações nos olhos após procedimento em 4 de setembro no Centro de Promoção Humana Frei Daniel de Samarate (Capuchinhos). Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) informou que está acompanhando o caso. Pacientes que fizeram cirurgia pelo ‘Mais Visão’ tiveram infecção no globo ocular
Um procedimento que era para ser um recomeço virou sofrimento na vida de 104 pacientes. Eles passaram por cirurgia para recuperação da vista no dia 4 de setembro de 2023 por meio do programa Mais Visão, no Centro de Promoção Humana Frei Daniel de Samarate (Capuchinhos), na zona central de Macapá, e acabaram ficando sem enxergar alguns dias depois do procedimento.
A aposentada, Maria Alves contou que nas primeiras 24 horas não sentiu nenhum sintoma.
“Eu operei em um dia e no outro dia fiz a avaliação, tava tudo bem […] Voltei pra casa, dormi e já acordei com muita dor e com tudo escuro. Eu sonhava com uma visão boa.”
A aposentada, Maria Alves, foi uma das prejudicadas
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Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) informou que quando foi notificada sobre o problema pela empresa que realizava as cirurgias, a Superintendência de Vigilância em Saúde (SVS) iniciou uma investigação para identificar o que motivou as infecções (Veja nota na íntegra no final desta matéria).
O programa Mais Visão existe há três anos e é fruto de uma parceria do governo do Estado com os Capuchinhos, que contratou uma empresa terceirizada – a Saúde Link – para realizar as cirurgias. O programa já realizou mais de 150 mil atendimentos, 106 mil foram cirurgias de catarata.
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No dia 4 de setembro, quando foram operados 141 pacientes, 104 apresentaram complicações. Em um dos casos, o paciente Antônio Ferreira, de 82 anos, teve que retirar um dos olhos. O autônomo diz que fez a cirurgia após acompanhar o sucesso de outros pacientes atendidos pelo programa.
“Todo mundo fazia a cirurgia e ficava bem da vista, eu pensei que ia acontecer comigo. Uma limpeza de quintal […] tudo eu fazia. Hoje eu não posso fazer nada, eu quero fazer, mas não posso. Para caminhar da sala para a cozinha, tenho que ir apalpando a parede, tudo é uma dificuldade”, detalhou.
Antônio Ferreira, de 82 anos, teve que retirar um dos olhos
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Após a identificação do problema, a Promotoria de Saúde do Ministério Público (MP-AP) recomendou para que as cirurgias fossem suspensas.
“Pedimos que suspendesse imediatamente as cirurgias para novos pacientes, que apenas fosse dado total suporte aos pacientes afetados”, informou o promotor de saúde Weber Penafort.
Os pacientes que passaram pelas cirurgias em 04 de setembro, segundo o diretor da empresa responsável pelo Mais Visão, Afonso Neves, foram diagnosticados com o fungo Fusarium, que provoca a endoftalmite, um tipo raro de infecção produzido pela ação de microrganismos que penetram na parte interna do olho, como tecidos, fluidos e estrutura. A doença pode levar à perda da visão.
“É uma novidade, uma tragédia. Nunca tínhamos visto nada igual”, disse o diretor.
De acordo com Frei Carlos Pestana, diretor do Centro Frei Daniel de Samarate, todos os pacientes estão sendo acompanhados.
“Desde que fomos notificados, a instituição está trabalhando para auxiliar os pacientes. O foco principal é a assistência às pessoas desde as primeiras notificações”, afirmou.
Programa já realizou mais de 100 mil cirurgias
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A promotoria de saúde está investigando as causas do aparecimento do fungo. As cirurgias só poderão voltar a ser realizadas após liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Veja nota na íntegra
O Governo do Amapá se solidariza com os pacientes que tiveram as córneas afetadas por uma infecção que ocorreu após as cirurgias de catarata realizadas, em setembro, durante o Programa Mais Visão, que recebe emenda parlamentar e é executado por uma empresa contratada para a prestação do serviço por meio de convênio entre o Estado e o Centro de Promoção Humana Frei Daniel de Samarate (Capuchinhos).
Assim que foi notificada sobre o problema pela empresa, a Superintendência de Vigilância em Saúde (SVS) iniciou uma investigação para identificar o que motivou as infecções. Após análises foi encontrado o fungo Fusarium, que provoca a endoftalmite, um tipo raro de infecção produzido pela ação de microrganismos que penetram na parte interna do olho, como tecidos, fluidos e estrutura.
O suporte dado às famílias pela empresa responsável pelos procedimentos também é acompanhado de perto pelo Governo do Estado. Os pacientes estão recebendo serviços médicos 24h, medicação, transporte, deslocamento a outros estados e atendimento psicológico.
O programa teve início no Amapá em 2020 e, de acordo com os Capuchinhos, já realizou mais de 100 mil atendimentos, sendo a maior demanda por cirurgias de catarata com mais de 50 mil. Foram beneficiados principalmente idosos, pessoas de baixa renda e povos indígenas, como as aldeias Kumenê e Manga, no município de Oiapoque. O programa também trouxe novidades para a rede pública, como a cirurgia de pterígio e o YAG laser, que é a limpeza da lente das pessoas que passaram pela cirurgia de catarata.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) repassa os recursos federais para a entidade, que por sua vez, contrata uma empresa terceirizada responsável pelos procedimentos aos pacientes. O último repasse feito pelo convênio foi em setembro.
O Estado entende que a trajetória do Mais Visão ajudou milhares de pessoas com casos bem sucedidos, e com inúmeros relatos de retorno total da visão. Ainda assim, diante do ocorrido, os Capuchinhos paralisaram os atendimentos imediatamente após os primeiros relatos de infecção e no dia 6 de outubro, o programa foi suspenso.
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