Criança indígena com condição cardíaca grave viaja mais de 2.600 km entre AP e ES para cirurgia de urgência


Garnison Kaxuyana Tiriyo, de 7 anos, pertence à Terra Indígena Parque do Tumucumaque, localizada entre os estados de Amapá e Pará. O procedimento que salvou sua vida foi realizado em hospital público referência no Espírito Santo. Garnison Kaxuyana Tiriyo, de 7 anos, viajou do Amapá para o Espírito Santo, para realizar uma cirurgia cardíaca.
Divulgação/Himaba
O menino indígena Garnison Kaxuyana Tiriyo, de 7 anos, enfrentou uma viagem de 2.625km, do Amapá ao Espírito Santo, para conseguir realizar uma cirurgia cardíaca de urgência. Junto de seu pai, Gabriel Kaxuyana Tiriyo, os dois enfrentaram a barreira do idioma e a primeira viagem de avião para fazer o procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em um hospital público referência no procedimento.
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A criança foi internada no Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), maior hospital pediátrico público do Espírito Santo, no dia 12 de fevereiro, e a cirurgia de alta complexidade foi realizada no último dia 16. Agora, pai e filho aguardam a alta, que deve acontecer até o final desta semana, para poderem voltar para casa.
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Garnison vive na Terra Indígena Parque do Tumucumaque, localizada entre os estados de Amapá e Pará. Sua condição foi diagnosticada durante atendimento médico na aldeia, quando foi constatado que o garoto estava em estado grave e corria risco de morte devido a um problema em uma válvula cardíaca provocado por uma febre reumática.
O diretor-geral do Himaba, Cláudio Amorim, explicou que a cardiologia é uma das linhas de tratamento de alta complexidade que existem no hospital. Em 2023, a unidade recebeu o selo de “Hospital Amigo da Criança”, dado pelo Ministério da Saúde, que o colocou no mapa da pediatria nacional, indicando suas referências para o país.
Da esquerda para direita: Cláudio Amorim, diretor geral do Himaba, Garnison, e Gabriel, pai da criança.
Divulgação/Himaba
“Sempre que algum estado ou governante necessita de um tipo específico de atendimento, ele articula com hospitais de referência e encaminha para alguma unidade com esse selo, como foi o caso do Garnison”, falou Cláudio.
O Amapá não tem hoje esse tratamento de referência que a criança necessitava. Logo, o estado fez contato com as unidades disponíveis para Tratamento Fora do Domicílio (TFD), para busca ativa.
“O Espírito Santo era um dos estados que podiam ajudar através do Himaba e foi a rapidez da informação e disponibilidade que definiu que o menino viria para cá. A secretária de Saúde de lá contatou o secretário aqui, que encaminhou o caso para o hospital, o prontuário foi avaliado e foi dado ‘ok’ para a vinda. A nossa resposta foi mais rápida”, explicou o diretor.
Febre reumática
Garnison Kaxuyana Tiriyo estava com problema em uma válvula do coração, devido a uma febre reumática. Espírito Santo.
Divulgação/Himaba
A febre reumática é uma doença inflamatória que pode surgir como consequência de uma infecção por estreptococos do grupo A. Está ligada à resposta autoimune do corpo aos antígenos bacterianos, afetando principalmente o coração, articulações, pele e sistema nervoso.
As complicações associadas à febre reumática são graves, incluindo danos nas válvulas cardíacas, como foi o caso do Garnison. De acordo com o cirurgião cardíaco Rafael Aon Moyses, responsável pelo procedimento do jovem indígena, a condição não é rara, mas exigia um cuidado imediato.
“O menino apresentava um quadro de insuficiência cardíaca, chegou muito cansado, com falta de ar. Precisava de atendimento rápido, já estava em risco de morte, se não tivesse tido atendimento, a cada dia iria piorar”, pontuou Rafael.
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Desde o acolhimento até a cirurgia e o pós-operatório, cerca de 30 pessoas profissionais atenderam a criança. A cirurgia demorou 4 horas.
Para doutor Rafael, a linguagem foi uma grande barreira, houve a necessidade de tradutor para explicar tudo que seria feito. “Não podemos fazer nada sem explicar para o paciente. Para a equipe, foi um caso atípico muito mais pelas diferenças culturais do que pela questão técnica do procedimento, porque estamos acostumados com todos os tipos de cardiopatia”, falou.
Mesmo com o procedimento bem-sucedido, a criança vai precisar de acompanhamento a vida inteira, continuar com medicações e observar essa válvula.
Dente precisou ser arrancado antes de cirurgia
Garnison chegou no dia 12 de fevereiro e foi acolhido por uma equipe multiprofissional. Previamente, os profissionais já tinham feito contato com a Fundação Nacional do Povos Indígenas (Funai) e com a comunidade indígena de Aracruz, para melhor realizar o atendimento neste caso específico e ajudar principalmente com a barreira do idioma.
A criança passou por um check-up completo e fez, entre outros, tratamento odontológico antes da cirurgia. “Tivemos que extrair um dente do menino, que tinha possibilidade de infecção, para não comprometer a cirurgia”, contou o doutor Cláudio Amorim.
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Garnison passou pela cirurgia no dia 16 de fevereiro, foi para Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e depois para uma unidade semi-intensiva, onde ainda está em observação. A previsão é que ele tenha alta até a próxima sexta-feira (1°).
A viagem de volta é de responsabilidade da Secretaria de Saúde do Amapá.
Pacientes de outros estados
Hospital Himaba, em Vila Velha, Espírito Santo.
Reprodução/TV Gazeta
O tratamento cardiológico no Himaba começou em setembro de 2010 e até hoje o número de atendimentos aumenta ano a ano. Em 2010, foram 8 cirurgias cardiovasculares, já em 2023, foram 178 procedimentos em crianças, todos de alta complexidade.
Do total do ano passado, nove procedimentos foram realizados em pacientes de outros estados, o que representa cerca de 5% das cirurgias cardiovasculares, média de atendimentos interestaduais do setor.
Em geral, de 20% a 25% dos pacientes atendidos no Himaba são de fora do Espírito Santo (desde consultas a cirurgias, incluindo todas as especialidades que existem no local).
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