Piloto contou ao g1 como foi a estratégia para pousar, sobreviver e fazer contato com equipes de resgate. Ele e mais dois tripulantes ficaram perdidos por quase quatro dias e foram encontrados com vida no sábado (19). Piloto narra pouso forçado na Amazônia e releva como sobreviveu na selva
Após evitar a queda vertical da aeronave e usar árvores para “amortecer” a descida, o piloto do helicóptero que fez um pouso forçado na Amazônia enfrentou o desafio de sobreviver na selva sob o calor do verão amazônico: enviou colega em colchão inflável e pôs R$ 70 e mensagem em uma garrafa rio baixo na tentativa de encontrar alguém que pudesse ajudar. Ele bebeu água barrenta e preparou arroz em cima de uma chapa, pedaço do helicóptero. (veja vídeo acima)
O piloto, tenente-coronel Josilei Gonçalves de Freitas, o mecânico Gabriel Assis Serra e o engenheiro José Francisco Pereira Vieira sobreviveram por quase quatro dias perdidos na floresta até serem localizados no último sábado (19). A aeronave havia decolado no dia 16 de uma reserva indígena, onde a equipe fez inspeção de pistas de pouso.
Segundo o piloto, o helicóptero teve uma pane a mil metros de altura e, como estava acima de mata fechada não foi possível fazer o procedimento de praxe.
O plano para descer e se manter vivo na selva:
Quando houve a pane, o piloto aproveitou a energia que a aeronave ainda tinha para procurar um lugar para pousar. Entrou no vale de Serra do Navio, entre montanhas, e achou uma área;
Duas árvores foram usadas como “amortecedores” durante a descida e foi sobre elas que o helicóptero chegou ao chão;
No 1º dia, o piloto pôs um pedido de socorro em garrafa no rio;
O mecânico Gabriel foi escolhido para descer rio abaixo em um colchão inflável em busca de ajuda, no segundo dia na selva;
Antes de partir no rio, Gabriel e o piloto estenderam um fio de aço para ampliar o sinal de rádio da antena VHF, que havia quebrado;
Os sobreviventes tinham comida para até quatro dias, faziam três refeições por dia: chupavam laranja pela manhã, almoçavam a comida melhor de dia e jantavam o que tinham poupado do almoço.
Josilei tirou uma chapa de alumínio da aeronave, tirou a tinta tóxica e fez arroz carreteiro nela
No terceiro dia, já sem Gabriel, o piloto assou um dos dois peixes que levava para Macapá
No sábado pela manhã, às 9h30, o piloto avistou um avião de resgate voando mais baixo, pegou o rádio, trocou o fusível da antena VHF e fez o contato com o avião;
Para que a equipe soubesse onde estavam com mais exatidão, fez sinal de fumaça;
Gabriel também avistou a aeronave – parou, como havia sido combinado – e foi resgatado em cima de uma pedra.
O helicóptero desapareceu na última quarta-feira (16) após sair do polo base Bona, na Aldeia Maritepu na Terra Indígena Parque do Tumucumaque, no Pará. Ele foi encontrado por volta das 10h da manhã de sábado (19) próximo ao Rio Itapuru, ao sudoeste de Pedra Branca do Amapari. Os três tripulantes chegaram por volta das 15h20 do sábado em Macapá. Os três receberam atendimento no Hospital de Emergência (HE) e passam bem.
O piloto tenente-coronel Josilei Freitas, o mecânico Gabriel Serra e o engenheiro civil José Francisco Pereira Vieira quando estavam perdidos na selva.
Montagem/g1
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Queda amortecida em árvores
A aeronave estava a cerca de mil metros de altura e o tempo era curto para tomar a melhor decisão e encontrar um lugar seguro. O piloto conta que apesar da pressa, analisou diversas estratégias para fazer o melhor pouso enquanto a aeronave descia sem controle.
“Eu aproveitei a energia que eu tinha da aeronave para procurar um lugar para pousar. E aí entrei no vale de Serra do Navio, entre as montanhas para procurar um lugar para pousar e também achar um ribeirinho, um rio para poder ser usado como água, caso eu precise ficar na floresta por muito tempo, e também usar o rio como meio de sair e buscar ajuda. E assim eu fiz, até a aeronave perder totalmente a energia de rotação”, contou.
Segundo o piloto, a aeronave cairia na vertical, no entanto, ele utilizou duas árvores como “amortecedores” durante a queda e foi sobre elas que o helicóptero chegou até o chão. Ele conta que deixou “a aeronave pairando sobre as árvores até ela perder energia”. Folhas, troncos e cipós podem ajudaram os tripulantes a pousar sem fraturas ou graves ferimentos.
“Ninguém teve nenhum arranhão, né? Eu pelo menos só machuquei a mão porque eu fiz muita força de comando, bati minha coxa em um dos comandos, mas superficial. O Gabriel teve um impacto na costela porque a aeronave bateu mais do lado dele. O Francisco também bateu a cabeça, mas tudo superficial, nada profundo, nenhuma fratura, nada que inflamasse. Todos destemidos da aeronave e ativos, como acho que você deve ter visto o vídeo que está circulando aí, em condições de trabalhar para sobreviver”, contou.
Localização onde caiu helicóptero no interior do Amapá
g1
Imagens do helicóptero que caiu na Amazônia
Reprodução/Internet
Plano para sobreviver na floresta
Depois de sobreviver a queda do helicóptero, um novo objetivo iniciava na vida da tripulação: tentar sobreviver na floresta até um possível resgate.
Foi preciso se concentrar em manter o corpo alimentado, hidratado – a temperatura do verão amazônico estava muito elevada -, além de cuidar da higiene e da saúde mental e é claro, montar uma estratégia para serem localizados.
Com alimentação para três ou quatro dias, um plano começou a ser traçado. No primeiro dia, Josilei mandou uma sonda pelo rio em uma garrafa. Dentro dela estava uma mensagem e R$ 70. Para ele, o dinheiro poderia atiçar a curiosidade de algum ribeirinho, que teria acesso às coordenadas de onde o trio estava.
Equipe dentro da mata após pouso forçado
Reprodução/Internet
No segundo dia, decidiram ser ousados. O mecânico Gabriel foi escolhido para descer rio abaixo em um colchão inflável em busca de ajuda. Ele foi selecionado para a missão por ser mais jovem, mais forte e por já ter sido sargento da Força Aérea.
Mas antes de sair em busca de resgate, ele e o piloto estenderam um fio de aço para ampliar o sinal de rádio da antena VHF, que havia quebrado após colidir com as árvores durante o pouso forçado.
”Nossa meta com o plano envolvendo o Gabriel era para que ele pudesse encontrar algum ribeirinho, algum pescador, algum indígena, alguma coisa. E a gente ficou, eu e o Francisco, o engenheiro, o passageiro, ficamos no acampamento para seguir buscando contato. Com o seguinte combinado, quem encontrasse ajuda primeiro saía para buscar o outro”, disse.
Gabriel saiu às 7h28 da manhã de quinta-feira (17) pelo rio em busca de ajuda. O passageiro Francisco e o piloto Josinei, seguiram no acampamento cumprindo rotina diária, que repetiram todos os dias aguardando socorro.
Gabriel desceu com o material de ração de sobrevivência que havia na aeronave. O kit ajudaria o mêcanico a sobreviver sozinho por dias se fosse necessário.
Alimentação, cuidados com a mente e com o corpo
Na aeronave havia provisão de comida como macarrão, arroz, café, enlatados, calabresa, entre outros. No dia da queda do avião, cada um dos três comeu um enlatado de atum.
Os sobreviventes faziam três refeições por dia: chupavam laranja pela manhã, almoçavam a comida melhor de dia e à noite comiam mais ou menos o restante do que deveriam ser comido no almoço. A água consumida era do rio.
Os tripulantes do helicóptero que ficou 3 dias desaparecido na Amazônia foram encontrados vivos
Reprodução
“A água era barrenta, o rio era um pouco fundo, a gente não conseguia pegar água mais no meio e pegava a água muito na beirada, então eu sei que a água não é muito boa, por isso eu estou até no hospital, estou desidratado e me recuperando disso, porque eu bebia pouca água para não ter problema estomacal”, disse.
O piloto conta que ele era o cozinheiro do trio, e que no segundo dia, ele tirou uma chapa de alumínio da aeronave, limpou, retirou a tinta tóxica e fez um arroz carreteiro em cima do metal.
Piloto mostra aeronave após pouso forçado de helicóptero na Amazônia
No terceiro dia, na sexta-feira (18), já sem Gabriel, que havia descido o rio, ele assou um dos dois peixes que fazia parte de uma encomenda que levava para Macapá. O restante do peixe foi defumado já que àquela altura a comida já estava um pouco passada.
“Caso precisasse ficar mais tempo, eu tinha um pouquinho de proteína. Mas eu tinha uma provisão ali de mais uns quatro, cinco dias de carboidrato, de arroz, de macarrão, essas coisas, para poder estar fazendo e mantendo a energia no corpo”, falou.
GTA sobrevoa área onde helicóptero desapareceu na Amazônia
GTA/Divulgação
Contato com equipes de resgate
No sábado pela manhã, às 9h30, o piloto avistou o avião do Graesp e do GTA voando mais baixo na região, foi quando ele decidiu ir até o rádio, recebeu a amplificação de sinal, trocou o fusível da antena VHF para poder ter energia e fez o contato com o avião, para enfim, serem localizados.
Segundo ele, a bateria só aguentaria até as 14h daquele dia, o que a dupla descobriria mais tarde que seria tempo suficiente para serem encontrados.
Foi a partir desse primeiro contato que já começou o processo de resgate. As equipes de busca localizaram as coordenadas do local onde os tripulantes estavam e eles começaram neste momento a fazer sinal de fumaça.
“Ampliei a fumaça junto com o Francisco, que é um engenheiro, para a gente ter mais sinalização na região, embora muito difícil, que é um vale e o ar não circula e a fumaça acaba não tendo muito efeito, mas conseguiram nos localizar”, disse.
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Resgate após dias na selva
O piloto manteve contato com a Força Aérea Brasileira até acabar toda a energia e possibilidade de comunicação no sábado. Ele avisou sobre o mecânico que descia o rio em busca de ajuda há mais de 30h.
As equipes resgataram por volta das 14h de sábado o piloto e o engenheiro da Funai. Em seguida, foi a vez de ir à procura de Gabriel que foi encontrado em cima de uma pedra.
“Ele já tinha visto o avião passando, então ele já estava parado aguardando socorro, porque nós tínhamos combinado isso, e resgatamos ele e, graças a Deus, os três retornaram para casa. Em resumo foi isso”, contou.
Tripulantes do helicóptero que desapareceu na Amazônia chegaram em aeroporto após resgate
Reprodução/Funai
O regaste aconteceu próximo ao Rio Itapuru, ao sudoeste de Pedra Branca do Amapari, município distante cerca de 183 quilômetros da capital do Amapá.
Os tripulantes chegaram por volta das 15h20 deste sábado no Aeroporto Internacional de Macapá Alberto Alcolumbre. Todos os 3 receberam atendimento no Hospital de Emergência (HE) de Macapá e passam bem.
Helicóptero similar ao que sumiu na Amazônia
Marcos Vinicyus/Jetfotos
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Navegação em colchão, R$ 70 em garrafa: como tripulantes sobreviveram na Amazônia após pane de helicóptero a mil metros de altura
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